quinta-feira, maio 31, 2007

um dia após outro dia

Uma coisa certa é que o tempo é bom companheiro para se lidar com a dor. Um dia, outro dia, mais um, o coração dói, chora mas há de se tocar a vida porque ela não pára, no máximo dá um força desmarcando gravação...

Agradeço a todo mundo que passou por aqui e deixou carinho para Angela, para mim. A despedida foi doída, como elas são, mas a tristeza de sua partida foi equivalente ao amor por ela demonstrado pelo amigos que lá passaram, pelo coro de senhorinhas cantando "Segura na mão de Deus" em Cachoeira do Sul (ela usava essa expressão direto, descobri de onde saiu), por ter podido homenageá-la lendo um trecho do e-mail que publiquei aqui há poucos dias. Foi bom para ver outros lados dessa história, tentar montar o quebra cabeça que permita me conformar um pouco mais com a partida dela. Ia dizer que ela podia ter esperado mais um pouquinho, mas quem quereria esse tempo era eu e não ela, então deixá-la partir é o que se há de fazer.

*Dictionary.com é melhor que Quiroga em previsão de estado de espírito do dia:

Word of the Day for Thursday, May 31, 2007

disconsolate \dis-KON-suh-lut\, adjective:

1. Being beyond consolation; deeply dejected and dispirited; hopelessly sad; filled with grief; as, "a bereaved and disconsolate parent."

2. Inspiring dejection; saddening; cheerless; as, "the disconsolate darkness of the winter nights."

Midway through the course he came to the table with the disconsolate expression of a basketball coach whose team had just been trounced.
-- Bryan Miller, "Odd Couples Can Make Magic", New York Times, March 2, 1994

An eighteenth-century Fairfax, Thomas, lost the last of the land in the South Sea Bubble and the Fairfaxes were all but forgotten -- except for Lady Mary who was occasionally sighted, dressed all in green, disconsolate and gloomy, and occasionally with her head under her arm for good effect.
-- Kate Atkinson, Human Croquet

. . .King Midas, whose lips turn all they touch to cold, unnourishing riches, and who perishes alone and disconsolate, cut off by his wealth from the simplest necessities of life -- for bread, water, as well as his wife, his child and his little dog, all turn as he stretches towards them into the gold he thought he desired more than anything else.
-- Jane Shilling, "A golden ambivalence", Times (London), June 2, 2000

Disconsolate comes from Medieval Latin disconsolatus, from Latin dis- + consolatus, past participle of consolari, "to console," from com-, intensive prefix + solari, "to comfort, to soothe, to relieve."

quarta-feira, maio 30, 2007

São pouco mais de cinco da manhã, obviamente o vôo está atrasado mas ainda estou animada - a lua brilhava cheia sobre a marginal, coisa que só quem saiu de casa`as quatro-quase-cinco conseguiu ver. Gosto de ver diferente. O dia vai ser meio que bastante triste, que vai ser longo e interminável em algumas horas, duro em outras.... Opa, acabaram de avisar que o embarque vai ser as cinco-quase-seis, e lá vamos nós. Não tenho pressa de embarcar e enfrentar o que está por vir. Nunca fui boa de adeus. Na verdade sou péssima para dizer tchau.

Viver além de existir é tudo que quero acreditar. Não quero perder a esperança no mundo. Gosto de ser assim. Penso muito sobre isso, sobre ter fé - na vida, em nós humanos malucos e esquisitos e maravilhosamente ricos em seu pequeno universo pessoal, em sei lá o que. Ela permite que eu continue a viver.

*pedaço de pensamento anotado, escrito direto dos seis graus de Porto Alegre

terça-feira, maio 29, 2007

descanse em paz, minha querida amiga





Conheci Angela em 99, quando era assistente de produção no Canal Azul, produtora de documentários, e aquela alemoa apareceu, recém chegada de uma temporada em NY, para roteirizar e editar uma série de documentários. Eu decupava as fitas brutas e entregava para ela escrever a história que se sucederia. Ali nasceu uma amizade incrível.

Ela acreditou que eu seria uma boa produtora e me levou para trabalhar no Video Show, depois me incentivou a fazer o teste para ser repórter. Emprestou seu apartamento em SP para eu morar sozinha e aprender um pouco mais da vida, sem cobrar aluguel. Segurou minha mão diversas vezes. Por trás da força que aparentava, havia uma doçura e uma generosidade sem tamanho, dividindo lugares, segredos, sabores - Z-Deli, restaurante grego do centro e mais um monte de lugares que íamos a cada vez que ela aparecia em São Paulo...ela colecionava pinguins e tinha orgulho de ter em sua coleção o mais feio pingüim do mundo, achado em Crato, no Ceará. Ela ria das loucuras que todo mundo levava a sério, saia sempre com um sorriso, uma palavra de estímulo e o chicotinho na mão para cobrar direito quem perdesse a atenção. Instigava a pensar criticamente, em não aceitar as imposições do mundo, em ler, remexer e não tentar ir pelo caminho mais fácil. A acreditar que vale a pena se jogar e sonhar.


Não sei bem como ela esqueceu-se disso. Há um ano ela teve um piripaque nervoso que gerou uma tristeza imensa no seu coração. A minha resposta foi o e-mail abaixo:


" Imagine você acordando em pleno feriadão. Abre o jornal, sentada na cozinha....depois do cotidiano, da política, de todos os absurdos publicados você acha que nada mais te surpreende. Então pega o caderno 2 que um pouco de cultura não faz mal a ninguém e lê, ali nas linhas, que a sua amiga, aquela que você tanto gosta, teve um piripaque. E um piripaque dos brabos pelo que se percebe. Aí quem tem um piripaque é você. Mas tenta manter a calma, respirar...e continua no jornal...e chega na Ilustrada, uma página, outra página e lá está a sua amiga, a sua irmã querida e o piripaque dela figurando nos jornais. Susto. Respiro. Tento o telefone que não funciona. Começo uma busca louca pelo telefone da mãe, da irmã, de alguém no sul que possa me dar notícias. Nada. E o coração que já é um orgão de pulos, parece pipoca a beira de estourar.

Num primeiro momento penso na última vezes que a vi, a minha querida sempre cheia de luz andava meio descrente. Percebi em suas feições: a pele brilha menos, o olhar está cabisbaixo, sinais de que ela anda esquecendo de pensar em si. Ela é linda e é assim, esquece dela vez em quando, mesmo não podendo. Mas nada que pudesse sugerir um piripaque. Sugeriu um e-mail (nunca mandado, preciso perder esse hábito) falando para ela se cuidar, para não baixar a guarde e nem deixar de abrir o coração.

Porque ela, essa minha amiga, esquece que é muito mais do que a profissão que desempenha: ela é uma mulher cheia de garra, que fez por si e só algo que antes nunca tinha imaginado quando separava nas férias "pinto para lá, pinta para cá". Ela chegou onde quis, e isso ainda é menos do que pode fazer, porque ela é abençoada com a capacidade de empreender o que quiser. Ainda bem que não é maluca, porque se soubesse o poder que tem, dominava o mundo. Ela já foi mulher, namorada, esposa, casada. Já foi mãe, irmã, filha, sobrinha, amiga. Já foi reporter, produtora, redatora, diretora. Ela é o que bem quiser.

É aquela amiga que abriga a todos em seu coração, que se pudesse resolvia o problema do mundo e ...esquece dos problemas dela, (...) É aquela amiga destemida que se joga quando acredita: seja um amor, seja um trabalho, seja uma causa....mas que esquece de se jogar no seu bem estar. (...)
É aquela amiga que acredita nos outros, nela, nas causas...mas que esquece de acreditar no mais importante - na sua própria importância. (...)Isso vai além de competência, que ela tem de sobra, ou de profissionalismo, ou de sucesso, ou de poder, isso está baseado no que ela carrega no coração, no espírito, nos olhos...isso está além da profissão que ela tem no momento - e no momento ela é diretora geral da porra toda, mas quem a conhece sabe que ela é muito mais que isso. Isso vai além do fato de ela poder hoje resolver todos os problemas financeiros da família. Isso vai além dela frequentar a favela e o Projac, dela ganhar relógio a cada dia e pensar que falta comida na casa da tia. Isso vai além de dinheiro, poder, sucesso e profissão. A importãncia dela , da sua existência, está no que ela traz dentro de si, uma força maior, um amor genuíno, uma inteligência divertida, uma sabedoria sagaz, um humor mordaz que se traduzem em risos tomando café, em bate papos numa tarde, em e-mails (lindos) escritos em madrugadas acordadas, em pedir mais da vida e de todos, porque sabe que é possível querer mais para se ser feliz...

Ela é Angela, feminino de anjo, aquela que veio á Terra abençoar aqueles que escolhidos foram para sua companhia desfrutar.

*****
Amiga, não reli. Perdoe os erros que eu perdôo o susto que você me deu. Mande notícias, quero saber de você.
E da próxima vez que você aprontar uma dessas eu te esgano.
Te amo
Te cuida
beijos
R."


Não posso mais esganá-la porque ela se foi ontem. Desistiu. Caput. E eu fico aqui matutando, tentando entender o que aconteceu, porque essa história terminou assim. Na hora que falaram, não acreditei e liguei no celular dela. A Secretária eletrônica com a sua voz quase fez acreditar que ela estaria ali e em pouco iria me ligar. Não ligou até agora. Apesar de ainda não acreditar, fui remexer nos antigos e-mails e reler nossas conversas. Encontrei uma carta de amor que ela uma vez enviou , e que sintetiza a inteligência, o brilhantismo e a maneira como via a vida.

"-----Mensagem original-----
De: Angela Sander
Enviada em: quarta-feira, 20 de agosto de 2003 13:49
Para:
Assunto: MOMENTO LITERÁRIO DA MADRUGADA

xxxx,
Fiquei pensando se mandava ou não......fiquei pensando no momento pânico.........fiquei pensando......... Mas não deu pra ir contra tudo que me ocupou a madrugada inteira (e tem me ocupado os dias também)....... Então eu mando.......
Angela

No meu dicionário, procurei destino. Ele estava lá com vários sinônimos. Antônimos, nenhum. Por quê? Não sei. É muito difícil descobrir porque privaram o destino de antônimos. Não sei, repito, e nem quero saber. Seja qual for o caso específico, é sempre pouco provável que se chegue ao motivo pelo qual as pessoas agem. Isto, creio eu, se deve ao fato óbvio de ser infalivelmente possível encontrar mil explicações lógicas, evidentes, contraditórias e se anulando duas a duas, para dizer por que fulano agiu daquela maneira. O que me interessa no momento é tirar o melhor proveito desse negócio, para mim estranho e um tanto ameaçador, do dicionarista não ter encontrado antônimo para o destino.


Você pode me dizer que salada não tem antônimo, nem carrapato, nem eu mesmo, e nem mesmo você. É uma opção pensar assim, dar boa noite e ir dormir em paz. Eu não consigo mais nem que queira, e gostaria. É que de uns tempos pra cá não está dando pra abafar umas vozes piratas que insistem em falar comigo, agudas, aflitas, me fisgando, como querendo me pôr a par de coisas urgentes que não entendo direito, porque falam todas ao mesmo tempo. Tento ouvir nas entrefalas e nisto vou driblando a solidão, o desespero, a vontade de morrer e os outros fantasmas coadjuvantes que brincam de assombrar a minha alma.
(...)


Mas voltemos ao destino, ele bate à porta, dele não se foge, com ele não se brinca, é o dono de todos os fatos e a todos fataliza. Está escrito, e assinado por Deus. E falando nisso, uma coisa puxa a outra, vou contar um caso. Deu-se que Deus, certa feita, tomado por divina obsessão, escreveu de um só fôlego o diário da eternidade e nos criou pra encená-lo. Durante algum tempo divertiu-se com aquilo, mas aos poucos foi perdendo o interesse, achando tudo uma grande bobagem e, como somos feitos à sua semelhança, sabemos como é penoso alguém não se contentar com a própria obra. Vai daí que passados mais alguns milênios, Deus irritou-se de vez com a dança monótona dos astros no geral e em particular com o formigar inconsequente dos homens sobre a terra. Aquilo era a imagem palpável da Sua infinita mediocridade. Caminhou então, numa incomensurável solidão e absolutamente triste, para os confins do universo. Dali, mergulhou de cabeça no vazio e dissolveu-se. Se ele ressuscitou no terceiro dia, no quinto ou no décimo primeiro, se ressurgiu em uma nova dimensão nas propriedades de um outro deus qualquer, são hipóteses que valem rigorosamente o peso de sua inutilidade.


O que parece importar a todos, é que vamos morrer, como Deus quis e o fez. Você dirá que Deus era um suicida e você não o é. E que diferença faz? Vai morrer do mesmo jeito, como eu, como nossos pais , como nossos filhos. Você não quer que suas queridas pessoas morram e elas morrem. Você não quer morrer de jeito nenhum e vai morrer, meu caro. É foda e põe foda nisso.


E o filme no domingo de manhã? E a pipoca quentinha? E os vinte anos com a vida estalando de nova ao furar uma onda num dia de verão? E aqueles outros dias, com suas noites de inverno, ao lado de você, duplamente aquecida embaixo do edredon e na frente da tv? E os amigos reunidos dia adentro e noite afora na comovente conivência do simples ato de conviver? E tudo mais que era bom?


Tudo artes da fé. Ouvi agora uma frase clara, solta. Uma das vozes sobressaiu, destacou-se nitidamente das demais e gritou rápida. Tudo artes da fé! Foi o que eu ouvi. A fé, xxx. A fé que de repente me livra do pudor de escrever a você, umas tantas linhas do meu mais puro, sincero e desarmado amor. Declaro-me emocionada e convido você a irmos juntos aos confins do universo atirar no vazio o diário que Deus esqueceu-se de levar. Vamos lá, vamos dar ao destino o destino que ele merece. Vamos tirar a vergonha da cara e cair de boca na vida enquanto o seu lobo não vem. E doa a quem doer. Vamos e venhamos. O problema social, o problema econômico, o problema moral, o existencial, o estrutural, o sorrateiro, o diagonal, o sensacional, a solução deles não será nunca a causa da felicidade. Solução não é jamais a causa de coisa nenhuma. Solução é consequência. Só há uma saída possível, seja feliz, seja radicalmente feliz e esteja nisso o antídoto e o antônimo procurados. Seja feliz, destine-se você mesmo e passar bem. Case com a felicidade e lhe seja fiel de papel passado em todos os cartórios, em todas as igrejas, bares, viadutos, veículos, passeatas, compromissos, consultórios, redutos e municípios. Se doer, berre à vontade, mas seja feliz. Envelheça descaradamente e fazendo alarde, com seu melhor sorriso nos lábios. Morra numa boa, como quem vai ali e não volta. Ou volte, se lhe for possíivel, e não esqueça de me procurar e me dar um beijo e um abraço, e de fechar a porta e deixar lá fora a solidão. "


com carinho, amiga, descanse onde estiver. eu te amo.

sábado, maio 26, 2007

Domingo não dá para perder



















Amor de Rapariga
Por Joana Gatis

“Todo o universo vermelho, as mulheres pin’ups, os cabarés e suas raparigas.
Os amores possíveis e impossíveis, a boemia, a noite e todas as sensações.
Os tecidos de algodão com estampas que trazem o romantismo dos bordeis das cidades de interior
A fé sempre presente nos orixás e nos santos de umbanda com seu cheiro de arruda e alfazema, na cachaça jogada pros santos.
Na sua dança e nas musicas que sempre nos levam pra nossos amores doídos ou não.
As saias rodadas, os decotes, em tudo que exala feminilidade.

Foi nesse universo que mergulhei de cabeça para fazer a exposição Amor de Rapariga
Nas telas os santos e raparigas pin’ups trazendo as figuras que povoam esse mundo
Nas roupas toda feminilidade mostrada com modelagens simples, mas com um toque de alfaiataria.
As estampas são um estudo de sobreposições. As dos tecidos e as que foram criadas por mim. O resultado é rico e único.
Os acessórios são populares com um tratamento de arte; pulseiras de madeiras pintadas à mão e bolsas de feira que ganham estampas exclusivas tornando se peças únicas“

quinta-feira, maio 24, 2007

331

Doem-me a cabeça e o universo. As dores físicas, mais nitidamente dores que as morais, desenvolvem, por um reflexo no espírito, tragédias incontidas nelas. Trazem uma impaciência de tudo que, como é de tudo, não exclui nenhuma das estrelas.
Não comungo, não comunguei nunca, não poderei, suponho, alguma vez comungar aquele conceito bastardo pelo qual somos, como almas, conseqências de uma coisa material chamada cérebro, que existe, por nascença, dentro de outra coisa material chamada crânio. Não posso ser materialista, que é o que, creio, se chama `aquele conceito, porque não posso estabelecer uma relação nitída - uma relação visual, direi - entre uma massa visível de matéria cinzenta, ou de outra cor qualquer, e esta coisa eu que por detrás do meu olhar vê os céus e os pensa, e imagina que céus não existem. Mas, ainda posso cair no abismo de supor que uma coisa possa ser outra só porque estão no mesmo lugar, como a parede e a minha sombra nela, ou que depender a alma do cérebro seja mais que depender eu, para o meu trajecto, do veículo em que vou, creio, todavia, que há entre o que em nós é só espírito e o que em nós é espírito do corpo uma relação de convívio que podem surgir discussões. E a que surge vulgarmente é a de a pessoa mais ordinária incomodar a que o é de menos.
Dói-me a cabeça hoje, e é talvez do estômago que me dói. Mas a dor, uma vez sugerida do estômago `a cabeça, vai interromper as meditações que tenho por detrás do cérebro. Quem me tapa os olhos não me cega, porém impede-me de ver. E assim, agora, porque me dói a cabeça, acho sem valia nem nobreza o espetáculo, nesse momento monótono e absurdo, do que aí fora mal quero ver como mundo. Dói-me a cabeça, e isto quer dizer que tenho consciência de uma ofensa que a matéria me faz, e que, porque como todas as ofensas, me indigna, me predispõe para estar mal com toda a gente, incluindo a que está próxima porém não me ofendeu.
O meu desejo é de morrer, pelo menos temporariamente, mas isto, como disse, só porque me dói a cabeça. E, neste momento, de repente, lembra-me com que melhor nobreza um dos grandes prosadores diria isto. Desenrolaria, período a período, a mágoa anónima do mundo; aos seus olhos imaginadores de parágrafos surgiriam, diversos, os dramas humanos que há na terra, e através do latejar das fontes febris erguer-se-ia no papel toda uma metafísica da desgraça. Eu, porém, não tenho nobreza estilística. Dói-me o universo porque a cabeça me dói. Mas o universo que realmente me dói não é o verdadeiro, o que existe porque não sabe que existo, mas aquele, meu de mim, que, se eu passar as mãos pelos cabelos, me faz parecer sentir que eles sofrem todos só para me fazerem sofrer.


(Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)

hoje tem

terça-feira, maio 22, 2007

ela está entre nós

Rapidoviscas

*DoDô, dj, professor, autor de livros e um dos participantes do piloto do programa Urbano, nova empreitada no Multishow, avisa que vem para SP esse findi para tocar na festa Gente Bonita do Matias e do Luciano; boa pedida para 6afeira SÁBADO, como bem avisou o Luciano nos comentários.

*Uma edição especial do meu Resfest estará disponível até a noite no link do lifeblog resfest, no canto direito dessa página. Entre eles partes do show de Miho Hatori que os cariocas vão ver no fim de semana. É bom não perder e ainda tratar a princesa japa muito bem, que ela saiu com uma ótima impressão da paulicéia.
>Miho Hatori no Estrela da Lapa, a partir das 22h.
Depois do Show, discotecagem de Marcelo Callado & Nina Becker
PREÇO: R$ 40 s/ filipeta/ R$ 30 c/ filipeta/ R$ 20 c/ carteira de estudante
ENDEREÇO; Av. Mem de Sá, 69 - Lapa, Rio de Janeiro, RJ.
Tel. 2509.7602 - 2507.6686

*e falando na blogosfera, descobri "Cavalo na chuva" que me levou até Hydro74

*Ah, sim, Ignácio Aronovich e Louise Chin a.k.a Lost Art (nos links favoritos) agora tem BLOG na Superinteressante. Cola lá.

sábado, maio 19, 2007

Resfest - destaques da programação de sábado

Drawing Restraint 9

Inédito no Brasil, o filme de Matthew Barney terá sua primeira exibição no Resfest no sábado 12h40. A sessão é concorrida, então é bom chegar cedo para pegar a senha que será distribuída uma hora antes do início da sessão.
O filme será exibido também no domingo, na sessão das 22h30.
Drawing Restraint 9

12h40 - Sala Cinemateca BNDES

Sessão extra no domingo: 22h30 - Sala Cinemateca BNDES




Retrospectiva Goulart de Andrade



O pioneirismo de Goulart de Andrade na produção independente para a TV no Brasil e no uso de ferramentas como a filmagem sem roteiro e os planos-sequência, tornam essa retrospectiva de seus trabalhos imperdível. Trechos dos melhores programas (que incluem o do ET de Varginha, dos Monstros do Silicone e do dia em que ele se vestiu de travesti) serão entrecortados por uma entrevista com Goulart em que ele comenta os programas.
O sábado também terá um Painel com Goulart em que ele será entrevistado pelos jornalistas Alexandre Matias, Bia Abramo e Marcelo Tas.

Retrospectiva Goulart de Andrade
15h10 - Sala Cinemateca BNDES

Vem Comigo!: Conversa com Goulart de Andrade

16h20 - Espaço de Palestras




We Are The Strange

Um longa-metragem de animação feito em casa e que chegou ao festival de Sundance: essa é a incrível história do filme de M Dot Strange, feito com ferramentas caseiras e com a ajuda de fóruns na internet.

Conta uma história fantástica de duas crianças em busca de sorvete que acabam numa aventura surreal e está mobilizando um exército de nerds mundo afora. Pra você ter uma idéia, M Dot Strange já trouxe o filme legendado ao Brasil, cortesia de um de seus seguidores. Ele ainda participa de uma conversa com o público em um Painel no domingo

We Are The Strange

22h30 - Sala Cinemateca BNDES



Debate - Graffiti: A Documentação de uma arte efêmera

Arte efêmera por excelência, nem sempre feita em locais permitidos, o Graffiti dá uma bela disucssão nesse painel que contará com as diretoras do filme 'No Traço do Invisível' e com Zezão, o grafiteiro retratado no filme, além do videomaker Onesto e do fotógrafo Flávio Samelo. COmo convidado internacional, o diretor Andres Johnsen, do longa 'Inside Outsite'. A mediação fica por conta da jornalista Renata Simões.



Graffiti: A documentação de uma arte efêmera

18h00 - Espaço de Palestras

****cola lá!






Show: Miho Hatori

A ex-Cibo Matto e ex-Gorillaz, que ja colaborou com gente como Beck e Beastie Boys, chega ao Brasil acompanhada de sua banda para mostrar composições de seu primeiro CD solo, o elogiado 'Ecdysis'.



Miho Hatori

20h00 - Pátio interno





Resfest Brasil é apresentado por


www.resfest.com.br


Resfest|10
Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207
Vila Mariana - São Paulo

Ingressos:
Resfest 1 (todas as atrações): R$50 (antecipado), R$60 (inteira) e R$30 (meia)
Resfest 2 (todas as atrações exceto show): R$40 e R$20 (meia)
(preços por dia)
Vendas:
Lojas Chilli Beans Vilaboim, Center 3, shoppings Villa Lobos e Morumbi, Piolla Moema e Jardins e Ingresso Fácil (www.ingressofacil.com.br)

sexta-feira, maio 18, 2007

Hoje no Resfest

A sexta-feira é o dia em que serão exibidas as três sessões internacionais de curtas-metragem do Resfest, resultado de uma busca meticulosa feita por centenas de inscrições.


Shorts 1 - State of The Art

17h - Sala Cinemateca BNDES

Shorts 2 - Out Of The Box
18h40 - Sala Cinemateca Petrobrás

Shorts 3 - Fear and Trembling
22h30 - Sala Cinemateca Petrobrás



Beijing Bubbles
Um retrato da cena do punk rock na capital da China. Mostra personagens desse underground num país em que o controle dos cidadãos é alto e a preocupação com riqueza e prosperidade domina o imaginário da população.

Os personagens viveram de perto essa cena tão peculiar, foram aos shows e até às residências desses músicos sonhadores, solitários e desiludidos.

Beijing Bubbles
18h40 - Sala Cinemateca BNDES


e tem mais, além do show de My Brightest Diamond

e amanhã, além da mesa com o Goulart de andrade e da super programação, tem a mesa sobre a documentação do graffiti que eu vou mediar. Cola lá

Resfest|10
Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207
Vila Mariana - São Paulo

Ingressos:
Resfest 1 (todas as atrações): R$50 (antecipado), R$60 (inteira) e R$30 (meia)
Resfest 2 (todas as atrações exceto show): R$40 e R$20 (meia)
(preços por dia)
Vendas:
Lojas Chilli Beans Vilaboim, Center 3, shoppings Villa Lobos e Morumbi, Piolla Moema e Jardins e Ingresso Fácil (www.ingressofacil.com.br)


olha o WHIP aí

sexta-feira, maio 11, 2007

ASAs


Carlos Dias tem ASAs que funcionam a favor de sua cabeça e suas mãos de mágico. As ASAs batem e sopram talento, força e sentimentos, personificando o que só olhos especiais como os seus conseguem ver. São tantas entidades que o cercam que elas ganham forma, bicos e chapéus, revelado em muita tinta, muita cor.

A história lhe foi generosa e intensa nos 32 anos que passeia por aqui: viveu de tudo, aprendeu demais, deixou outras para trás. Isso influência a maneira como ele vê, como pinta, como sorri. Dispersas em formas de arte plástica, música e até na maneira de levar a vida, as musas desse gaúcho lhe instigam a criar mais e mais.

Para gostar do trabalho do "Carlinhos", como é conhecido pela maioria, é preciso gostar de intensidade. São muitas - as cores, os traços, a maneira como ocupa o espaço. São muitos os mundos que ele vê e reproduz em tela, papel, pedaço de revista, cola e canetão. São infinitas as possibilidades que ele percebe e explora. São diversos habitantes, memórias, anjos e demônios, mitos que ele cria e que joga na cara de quem quer, ou não, ver.



Em "Veraneyo", ele gentilmente divide conosco mais um novo universo criado. É um desses convites para que possamos ir além da visão corriqueira e enxerguemos segredos escondidos. Para gostar do trabalho do Carlos é preciso ultrapassar limites, não ter medo de ser intenso e verdadeiro, como ele.


*Veraneyo fica em cartaz a partir desse sábado 12 de maio na Choque Cultural

quinta-feira, maio 10, 2007

Tem Cor Age

Quem teve coragem de enfrentar o frio paulistano de quase dez graus ontem `a noite pode conferir um dos melhores shows do ano - e olha que ele está nem chegou ao meio ainda...
ZÁfrica Brasil, formado pelos três mosqueteiros MCs Buia, Gaspar e Pitcho, mostraram o que quem já ouviu seus discos sabe: criatividade, musicalidade, diversão e suingue como pouca gente sabe fazer.

Para mostrar o excelente repertório de "Tem Cor Age", disco que saiu no fim do ano passado e dos melhores do ano - e de "Antigamente Quilombos, Hoje Periferia", de 2002, colocaram a banca ao palco para acompanhar como merece a sua levada - Dj Tano contava com os ZÁfricanos, banda formada por um timão, entre eles Theo Werneck nas cordas e voz, Érico Theobaldo na bateria, mais teclado e percussão. Os Záfricandos acrescentam com sua musicalidade força que torna esse show ainda mais completo, com os instrumentos acrescentando mais palavras `a lirica dos MCs, uma única voz formada por outras 3 que se encaixam.














Do show, fazia tempo que não via um de rap tão bom: as letras são boas, a música é para dançar, o show é divertido (principalmente porque como todos os MCs do mundo, eles adoram falar, nem que seja para elogiar o macarrão da casa que alimenta todos eles antes do palco), convidados interessantes - como o pandeirista Zé da(e) Riba, bom para quem gosta e para quem nunca ouviu falar da banda começar a gostar. Brincaram com o próprio repertório, transformando as bases já conhecidas em novas músicas, como "Sapo na Banca" que quase virou reggae. Mostraram maturidade e firmeza no palco, mesmo que a platéia não estivesse na sua lotação ideal. E deram de brinde aos que estavam lá um bis de três músicas e uma poesia. Precisa mais? Precisa sim, dos outros 3 shows da temporada que eles fazem no Grazie a Dio, em São Paulo, no mês de maio. Se der, eu vou em todos....afinal, se é para falar, falei, se é para firmar, firmei, se é para chapar, chapei...

Renaite Manda Avisar

Habemos Papa - ahá, uhu
e não estou diminuindo a sua Santidade
mas enquanto todo mundo reza
a Câmara dos Deputados aprova aumento para presidente, o vice, ministros e deputados, sem registro nominal dos votos
a Dos Vereadores promulga pacote de benefícios e o prefeito não veta
oremos então, que é só o que nos resta
porque eles estão como o pessoal ontem na praça da Sé: ole, ole, ole, olá, Papa, Papa (ou era Bentô, Bentô, li isso em algum lugar)

quarta-feira, maio 09, 2007

gotículas

quando choro chove
quando chove choro
não sei se é o céu que chora em mim
ou se sou eu que chovo nele

outro dia vi um filme em que isso acontecia
ela dizia que muita gente chorava quando chovia,
lembrei do aperto que dá no coração ver o dia cinza passar em pequenas gotas,
mas no filme o cara dizia para ela que chovia porque ela chorava
ela era uma princesa alienígena

será que me enquadro na segunda categoria? Serei um ET?
princesa não sou, nem quero ser
a vida na redoma parece com os dias de chuva onde não se vê o fim do mundo
só o cinza em tudo
sem horizonte nenhum só resta olhar para aquele que carrego dentro de mim

domingo, maio 06, 2007

Såbado a noite

Do meu lado da cidade, retomava `a labuta que parecia quase sem fim. Poucas horas de descanso na batida da jornada non stop. Chega cedo para sair cedo só no dia seguinte. Logo de cara, sou barrada, havia um problema com a credencial. Não adiantou explicar que era trabalho para o próprio evento, que isso ou aquilo. Quando nego não quer ouvir não adianta. Nem mesmo a vontade de berrar "barra mesmo que assim eu volto para casa e páro de trabalhar." O nonsense de pedir para trabalhar quando tudo o q se quer é estar em outro lugar, só pode ser encarado com humor ("é muito bom a senhora ter humor nessa situação" disse o segurança prontamente treinado pelo RH). Esse mudou rapidamente quando a grosseria começou a fazer parte daquela situação. O cara-crachá-não-pode-entrar me acompanhou boa parte dos 18628 passos dados naquela noite até as 8hs do dia seguinte.

Enquanto isso do centro da cidade, na Praça da Sé, a situação ia além da síndrome do pequeno poder:
"Colado à banca de jornal onde começou o tumulto durante o show dos Racionais MC´s, vi o exato instante em que uma PM nervosa e despreparada resolveu, em vez de conter uma algazarra de meia dúzia de jovens, estragar parte de uma das maiores festas de rua da cidade de SP, a Virada Cultural.(...) " disse Xico Sá

"A primeira vez que vimos uma galera subindo na banca achamos graça e ficamos tirando onda. Da segunda, a banca estava com muito nego em cima, eu comecei a ficar preocupada se os meninos caíssem. Da terceira, vimos que as pessoas estavam subindo no parapeito do prédio ao lado. Uma pergunta básica: porque os policiais militares não contiveram o pessoal e cercaram a banca da primeira vez que alguém subiu, como em qualquer outro lugar do mundo um policial decente faria? Eis a questão. (...)" bem comentou Camile

"Jornalista indignada com a confusão no show do Racionais Por Daniela Gomes
(...)
A polícia acuou toda a população em um canto, balas de borracha zuniam em nossos ouvidos, enquanto bombas de efeito moral explodiam ensurdecendo a população ainda estagnada.
No palco, o vocalista da banda, pedia para a população se acalmar e não revidar o confronto da polícia continuar curtindo o show sem deixar que meros preconceitos estragassem a festa.
Mas quem poderia continuar cantando enquanto apanhava com cassetete? A multidão ainda tentou, mas foi impossível continuar, o corre corre, as bombas, as balas, o choro, o desespero, todos se solidarizavam rapidamente e erguiam aqueles que caíam no chão no meio da corrida. Mas não havia mais para onde correr.
O centro de São Paulo e todas as suas ruas históricas voltaram ao passado ao se tornar um campo de guerra, poucos tentavam ainda protestar contra o ocorrido, mas afinal o que são algumas palavras contra bombas e tiros? Não havia mais o que falar o mais seguro era correr até quando as pernas agüentassem
No trajeto, paro com outras pessoas para descansar, um policial da guarda metropolitana pede para não descansarmos, pois os militares estão vindo logo atrás dando borrachada em qualquer coisa que esteja se movimentando por ali.
(...)" dá para ler aqui ou aqui.

e aqui tem um trecho do discurso do Brown que o Maleronka gravou (tem mais no Trânsito)

Não estava lá para testemunhar então muito menos dizer sobre o que não vi, mas creio que era de se esperar que a polícia não fosse ter lá muito boa vontade com o show do Racionais (não confio na polícia/raça do caralho).
O que Racionais MCs poderiam fazer? Não sei...talvez segurar o verbo ... mas aí não seria Mano Brown & cia.
O que Serra, Kassab E o Sr. Andrea poderiam fazer? Não sei..no mínimo assumir a sua parte da culpa ... em não preparar a polícia, em excluir a parte menos favorecida da população da maioria de suas benfeitorias e não sair com discurso de que a polícia trabalhou bem e a desordem que seria causada ia ser pior.
O que a polícia poderia fazer? Evitar sair dando pau em qualquer um que se movesse, porque como foi visto, o efeito bola de neve é sempre pior.

quinta-feira, maio 03, 2007

Renaite Entrevista DJ NUTS



Onutson, Rodrigo Teixeira, nome artístico "DJ Nuts". Nunca perguntei se essa alcunha veio da maneira dos gringos chamarem os malucos, mas é certo que Nuts é meio biruta pelo menos há dez anos, tempo que se passou desde que nos conhecemos, quando ele já riscava discos em festas. Nessa época a habilidade daquele magrelo atrás dos toca-discos era inversamente proporcional ao número de ouvintes simpáticos ao modo como ele manipulava os discos; lembro dos risos dele e de Mr. Zegon (ex-Zé Gonzales) quando falavam que eram do tipo de "DJ Saara" - era entrar na cabine e esvaziar a pista.
Dos projetos que participou estão o primeiro disco da então desconhecida banda O Rappa (quem quiser pode comprovar a presença dele de cabelos azuis nos videoclipes) e no segundo disco de uma banda promissora, que recém chegara ao mercado Sudeste, capitaneada por um tal de Chico Science e seguida por uma Nação Zumbi. Além disso, junto com o ZéGon, criou o DZcutz Crew (quem se interessar, tenho alguns mixtapes guardados. Em fita K-7) que já fazia "turntablism" quando a palavra ainda não era muito presente no vocabulário nacional.
Junto com o talento que saltava aos olhos, Nuts era conhecido pelo gênio forte e humor peculiar, o charme de todo troublemaker, coisa de quem vê além do alcance mas que só a idade consegue refinar esse olhar. Então o tempo passou, gracias, e Onutson chegou aos quase 30. Não sei ao certo porque pouco o vi no último ano, quando ele esteve viajando a maior parte do tempo. Mas curti muito chegar na Nova Zelândia e Bobby falar com o peito cheio que tinha levado-o para tocar para os kiwis. Tudo começou com uma tiragem de "Cultura Cópia" mixcd que ele fez com um pouco da pesquisa musical de discos raros que há tempos ele coleciona e que entopem sua casa no bairro da Saúde. O disco caiu nas mãos certas e saiu encartado na revista "Wax Poetics", daí ele seguiu pesquisando e vieram "Disco é cultura" volumes 1, 2 e 3... bem, acho que é melhor o próprio Nuts contar essa história:




Renaite) Como nasceu "Cultura Cópia"?
DJ NUTS) Cultura Cópia nasceu como um mixcd que eu fiz para mostrar a pesquisa, os discos que eu vinha procurando e achando, o trabalho de ir em sebo. Mostrar o que eu achei, os discos que são importantes no cenário de discos raros, músicas que são difíceis de achar e coisas que todos os colecionadores se interessam; é um quebra-cabeça do colecionadores. "Cultura Cópia" tem o básico, a música do movimento Black Rio: funk, black, soul music brasileira.

R) Mas foi encomenda da revista?
N) A revista pegou o disco depois que eu tinha feito a versão demo com 100 cópias - a edição original tinha o nome das músicas, a capa em xerox colorido de um desenho do Nunca e um adesivo. O que rolou foi que olhei e tinha vários discos, tava num momento estranho, sem perspectiva, aí peguei a grana que eu tinha e fiz o mixcd. 2 ou 3 meses depois a revista fez a proposta e o disco circulo pelos colecionadores.

R) E como veio a série "Disco é Cultura?"
N) "Disco é Cultura" é a seqüência de "Cultura Cópia": é para quem está mais acostumado, já que é menos acessível. O trabalho (de pesquisa) evoluindo para um outro estágio, mais maduro (ele ri). O primeiro volume começou com um lance mais romântico, em 2004; o volume 2 veio na mesma época 2004/2005 - é leve. são músicas boas de um território mais difícil: músicas que falam de amor, porque a música negra é romântica! Cassiano, Tim Maia, Diagonais, Trio Esperança, Evinha...Não tem o teor do desânimo, é forte, são músicas cheias de emoção, o critério era não ser algo na linha "Você me deixou", aquela coisa comum, deprê, para baixo. Tinha que ser algo que motivasse, algo forte

R) Aí veio o terceiro volume da série...
N) O volume 3 saiu em 2006 e o critério atual já o refinamento da pesquisa, os quebra-cabeças já estão montados - os discos fundamentais; assim, cada tema vai até tal ponto e chega num momento em que todos os discos já estão lá. O 1o e o 2o volume são "discos raros" - já comecei zoando (ele ri), tocando as músicas que todo mundo gosta mas que tem vergonha de colocar. Ao começar o terceiro, eu já tinha feito tudo aquilo, então tinha um novo território a explorar: Bossa Nova, Samba Jazz, os quartetos, os trios, discos de colecionadores antigos que foram difíceis de conseguir: muito rolê em lojas de discos e feiras, conhecendo o pessoal mais velho, que sabe de música.

R) E a distribuição desses discos, como rola?
N) Olha, os discos eu dei todos os que eu tinha, não vendo porque a tiragem é limitada e pequena.

R) E como surgiram as excursões pelo mundo?
N) O Giles Peterson colocou o "Cultura Cópia" no programa dele e muita gente ouviu. Aí pintou uma excursão com ele e com o Ed Mota em Londres, na Escócia, eu era o Dj que abria os shows. A gente só falava dos discos que só a gente tinha. Falávamos dos discos raros, que chegam a custar mil, dois mil reais, como um do Artur Verocai
R) E daí para o mundo?
N) O ano passado foi todo em viagens: Porto Rico, Nova Zelândia, Inglaterra, Dinamarca...´
R) E o que você tocava?
N) Só música brasileira e o público é na maioria gringo interessado em discos. Gosto de trabalhar com músicas que não tem tanto impacto - eu estava acostumado a tocar Rap que tem o impacto de cara, na batida - e o impacto agora é mais leve, são sons mais especiais, não tem nenhum hit porque eles não conhecem nada; você trabalha com a vibração do som, se ela vibra bem - se ela não vibra não precisa ser tocada. Em Los Angeles as pessoas conhecem um Azimuth mas é na maioria música se sente bem com o som então dança.

R) E agora?
N) Agora eu fico aqui, acumulando discos, usando essas músicas para fazer as minhas próprias músicas.