quinta-feira, fevereiro 01, 2007

O Centauro no Jardim

"Os judeus, escravos no Egito. Fogem, liderados por Moisés. Atravessam o Mar Vermelho. Vagueiam no Deserto. (E os centauros?) Eu me figurava nessa gente, os judeus, bando imenso, movendo-se lento no Sinai. Da multidão conseguia individualizar, graças aos poderosos olhos da imaginação, dois homens: pai e filho, ou talvez irmãos. Um rosto, empoeirado, os lábios gretados, ia á frente, fitando o horizonte; o outro, a mão debilmente apoiada sobre o ombro do primeiro, seguia-o, os ombros encurvados, a cabeça tombada sobre o peito; os pés de ambos, calçados em sandálias grosseiras, enterravam-se na areia. Eu apertava os olhos, as duas figuras se uniam, com mais um esforço eu as transformava numa espécie de quadrúpede - mas o resultado final era um jumento, um cavalo magro, ou, no máximo de exotismo que eu conseguia, um camelo. Centauro, não.
(...)
Li Marx. Tomei conhecimento da luta de classes, uma constante ao longo da História - mas não vi que papel nela os centauros poderiam ter. Eu estava solidário com os escravos contra os senhores, com o proletariado contra os capitalistas. Mas, e daí? Fazer o quê? Dar coices nos reacionários?"
(O centauro no jardim, Moacyr Scliar, pag 50/51 - ed. Cia das Letras)


Desde "A Mulher que escreveu a Bíblia" virei fã do gaúcho Moacyr Scliar. Sua capacidade de aliar narrativa fluída, fatos históricos, situações nabadescas, humor e crítica sob a mesma prosa transformam seus livros em pequenos prazeres, daqueles que saboreamos vagarosamente na tentativa de que durem um pouco mais.
Ontem terminou a estrada na garupa d´ "O Centauro no Jardim" (ai se Guedali lê essa frase), o começo dela divido acima. Melancoliazinha de saudade que dá.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi Renata,
Trabalho no projeto Trama Universitário. Queria fazer uma entrevista contigo, por email mesmo, sobre seu blog. Se puder, por favor, entre em contato comigo, no tatiana.dias@trama.com.br.
Obrigada!

12:20 PM  

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